O mercado de trabalho na TI pode ser inóspito para mulheres, mas a discriminação começa em etapas anteriores a essa. Mais de 40% delas afirmam sofrer preconceito de gênero já nas universidades, mostra o estudo da Yoctoo. Isso se deve também à maioria dos cursos relacionados ser composta por homens.
E, depois desse período, os entraves não diminuem. Mesmo já inseridas dentro do universo da TI, muitas mulheres chegam a abandonar a carreira.
A principal motivação para 37% delas é a cultura corporativa, segundo o levantamento “Resetting Tech Culture”, divulgada em 2020 pela Accenture em parceria com a Girls Who Code, uma organização internacional sem fins lucrativos que trabalha em prol da equidade de gênero na TI.
A mesma pesquisa mostra que se as empresas desenvolvessem uma cultura mais inclusiva nesse sentido, a taxa anual de turnover de mulheres na TI cairia em 70%.
Quando a diversidade é maior, as desistências diminuem proporcionalmente.
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Falha na representatividade
Toda essa escassez feminina no mercado da TI reflete em outro ciclo nocivo: a falta de representatividade. Sem isso, menos mulheres enxergam que aquele lugar pode ser ocupado por elas e, assim, o círculo vicioso de falta de incentivo se perpetua. Essa, aliás, foi uma das principais preocupações apontadas por 48% das entrevistadas pela Yoctoo: não ter em quem se inspirar.
Agregado a isso, a falta de oportunidade em processos seletivos é outra falha apontada por 39% das entrevistadas.
Corrobora com esse dado outro número mostrado na pesquisa da Accenture com a Girls Who Code, onde 45% dos líderes de Recursos Humanos acreditam que está mais fácil para as mulheres se darem bem no ramo da tecnologia, mas apenas 21% das mulheres entrevistadas concordam com isso. Quando o recorte é racial, o número é ainda menor: apenas 8% das mulheres negras, por exemplo, acreditam no mesmo.
Vale citar que o estudo da Accenture foi realizado com uma base de entrevistados dos Estados Unidos. No Brasil, há poucos dados de mulheres na TI que endereçam detalhamento com outros recortes.
O levantamento “#QUEMCODABR” de 2019, realizado pela PretaLab em parceria com a ThoughtWorks, trouxe luz a alguns números sobre diversidade de profissionais no setor de tecnologia no País.
Em 95,9% dos casos analisados pela pesquisa, não há qualquer pessoa indígena nas equipes de TI; e em 32,7% dos casos, não há qualquer pessoa negra.
Se considerando que, em 64,9% dos casos, as mulheres compõem no máximo 20% das equipes de trabalho, dá para se ter uma ideia do tamanho da questão quando a análise é minuciosa.
Profissionais de RH, portanto, possuem papel crucial para fazer esse universo mais diverso e equilibrado.
“É nosso papel proporcionar processos seletivos mais justos, inclusivos e, principalmente, sem nenhum tipo de viés”, afirma Exel. Para ele, iniciativas como a de incentivar os responsáveis pelas seleções de profissionais, para promover um processo neutro e focado em habilidades, possibilitam reverter esse cenário.
Quanto mais diversidade, menor a taxa de turnover de mulheres em tecnologia.
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